De socas nos pés

Dos Países Baixos para o mundo...

Manuel Alegre



Sempre fui um admirador de Manuel Alegre. As minhas prateleiras da casa de Lisboa estão cheias de livros da sua poesia, e, até mesmo, dos seus discursos políticos. Quem leu “Cão como nós” ou outros livros ficou tocado tanto pela prosa como pela poesia escritas por Manuel Alegre.

Para mim Alegre é o homem perfeito de Abril: Culto, da esquerda livre, inteligente, sem tabus, amante da pátria e dos valores nacionais, sedutor, entre outras coisas. Personifica aquilo que muitos deveriam ter seguido depois do 25 do A. Um caminho difícil, mas atento e, ao mesmo tempo dissonante, mas confortante.

Uma vez - recordo-me de cada segundo -, falei com Alegre ao telefone. Um amigo jornalista, que cobria a campanha para umas eleições, ligou-me para o telemóvel e disse-me:”Tens aqui alguém para falar contigo” – Qual o meu espanto quando do outro lado uma voz grave e radiofónica me diz: - “Daqui fala Manuel Alegre, com quem estou a falar?”.

Apenas minutos depois desci novamente à Terra. Nos poucos segundos de conversa, falámos do Benfica e da esperança diária de um mundo melhor que os homens de esquerda têm. E murmurei qualquer coisa como “nunca desista”.

Das vezes que pertenci ao PS (quando não era jornalista, obviamente) estive tentado a sair. A ir para o Bloco, ou mesmo a ficar independente, sossegado, sem me chatear. Mas era a figura de Alegre que me prendia àquele partido. A figura de que se podia ser do PS e ser de esquerda. De que se podia ser democrata de esquerda e ser do PS. Nunca desisti por causa dele, ou de Ana Gomes, ou mesmo de Ferro Rodrigues. Admiro Alegre como admiro poucas figuras portuguesas.

No entanto, esta campanha para as Presidenciais tem posto a público a parte que nunca gostaria de conhecer de Alegre. Reconheço que Mário Soares lhe passou a perna, que o PS o tratou mal, que se assustou com um candidato de esquerda, e que, provavelmente isso irá custar uma vitória nas Presidenciais e entregar o ouro ao bandido (também conhecido como Cavaco Silva) Mas tudo aquilo que Alegre tem feito até ao momento tem sido de uma drástica teatralidade e de um mau gosto inconcebível. Não vou votar (se fosse votaria Soares ou Louçã), estou no estrangeiro, e os serviços do Consulado são medíocres a um ponto de nos perguntarmos se não seria melhor mudar de nacionalidade…, mas voltando às eleições, não votaria em Alegre por muitas razões, entre as quais algumas que podem encontrar no texto abaixo, publicado no Diário Digital. E confesso que tenho pena.

Manuel Alegre e os mortos
por Luís Carvalho

Bem sei que uma campanha eleitoral é, ou tem sido, um conjunto de momentos, mais ou menos espontâneos, que visando a eleição de alguém ou de um partido, conduz, mais cedo ou mais tarde, invariavelmente à asneira. É certo que se a maioria dessas asneiras são compreendidas pelos cidadãos, e até desculpadas ou esquecidas, também não é menos verdade que algumas têm o condão de decidir actos eleitorais a favor ou desfavor daquele que asneira.
Recordo-me, de repente, do célebre lapso do PIB de Guterres em 1995 e do não menos célebre “bolo-rei” de Cavaco em 1996.

Como estes há imensos momentos de pura infelicidade que as televisões ampliam à dimensão de verdadeira desgraça para os visados.
Há contudo outro tipo de asneiras, aquelas que só o são para aqueles que as ouvem mas que para os próprios asneirentos são reflexos naturais da sua personalidade e da sua maneira de ser.
Esta campanha eleitoral teve já, da parte de Manuel Alegre, quatro momentos que mais do que mera infelicidade são a prova que o candidato junta às suas qualidades, muitas fraquezas de espírito. Falo da invocação deplorável que faz, de pessoas que infelizmente já nos deixaram. Todas têm a particularidade de serem homens de grande dignidade, mais do que aquela que Alegre parece demonstrar.

Não satisfeito por ter num debate com Jerónimo de Sousa ter invocado o nome de Lino de Carvalho, o saudoso deputado do PCP, Alegre mais recentemente “apropriou-se” da imagem e da figura de Álvaro Cunhal que se não é exclusiva do Partido Comunista, não é certamente aceitável que seja usada pelo candidato.

Depois foi aquela “arruada” pelo cemitério de Coja, para visitar a campa de Fernando Valle. Impunha-se o resguardo da dignidade do local. Que me recorde foi a primeira vez que vi uma acção de campanha num cemitério. Já tinha visto, e criticado Santana Lopes e outros, pelas suas idas à igreja para homenagear Sá Carneiro, mas nunca tinha assistido a tal indignidade.
Agora, por causa de uma deslocação à lota de Matosinhos, Alegre invoca o nome de Sousa Franco num acto de reprovável mau-gosto. Além de associar a figura do professor exactamente ao local onde tragicamente perdeu a vida, Alegre cola-se novamente a alguém que em caso algum lhe daria o apoio na sua candidatura a Belém. Até nisso Alegre poderia ter algum laivo de dignidade, limitar-se a invocar aqueles que em vida lhe dariam o seu apoio. Mas nem isso.

Se Manuel Alegre não respeita os mortos, como quer ele dignificar os vivos?

PS- Não falei, propositadamente, em João Amaral, também ele invocado por Manuel Alegre. A referência feita pelo candidato a João Amaral merece todas a minhas críticas à excepção do facto de eu admitir que ele João Amaral poderia ser um apoiante da candidatura de Manuel Alegre. Ficará sempre a dúvida.
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terça-feira, 17 janeiro, 2006

eu tb fiquei tao desiludida com o alegre-candidato que quase preferia que ele nunca o tivesse sido. e eu pudesse assim continuar a sonhar com "como era bontio ter um poeta de esquerda na presidencia". se for a lisboa votar, voto chico. para mim, so esse voto faz sentido.
[e tb nao vou falar do consulado que isso sao outros 500]    

Posted by Blogger she

terça-feira, 17 janeiro, 2006

Aqui o amigo jornalista que te pôs a falar com o Manuel Alegre concorda plenamente contigo. O poeta tem sido uma desilusão enquanto candidato presidencial... O meu voto está decidido: SOARES!    

Posted by Anonymous Anónimo

terça-feira, 17 janeiro, 2006

A ver se finalmente acreditam no que eu digo do Alegre ao tempo.    

Posted by Blogger Pedro Sá

quarta-feira, 18 janeiro, 2006

BICHAS!!!    

Posted by Anonymous Anónimo

quarta-feira, 25 janeiro, 2006

"Como estes há imensos momentos de pura infelicidade que as televisões ampliam à dimensão de verdadeira desgraça para os visados."
A meu ver o meu caro amigo parece ampliar uma referencia aos ditos não-vivos ao nivel de um voto deslocado.
Nuno Marujo    

Posted by Anonymous Anónimo

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