De socas nos pés

Dos Países Baixos para o mundo...

No país dos tristes

E será que ninguém apresenta soluções?

No país dos tristes
Filipe Rodrigues da Silva (Diário Digital)

É o país dos incêndios. O país que não tem meios materiais e humanos para apagar fogos. Mas, atenção – enquanto o seu PIB vai ardendo -, é o país do Euro 2004 e das SCUTs.
É o país que não tem dinheiro para comprar Canadair ou manter uma frota alargada de helicópteros Puma, que actuem onde bombeiros e viaturas não chegam, entre as estradas a rasgar serras e mato que nunca foram feitas.
É o país que não possui uma política séria para a floresta e a água. Mas que projecta Otas e TGVs. E que vibra com os cifrões que virão desses cegos que visitarem o então país da terra queimada.
É o país do maior défice da zona euro. Mas, mesmo pobre entre os ricos, vai sendo o país que alegremente mais lixo foi produzindo na Europa nas últimas décadas.
É o país que vê os seus cientistas partir e não regressar. O país onde o desemprego entre os jovens assusta o mais optimista dos licenciados. O país dos doutores e engenheiros de trazer por casa. O país do desemprego de longa duração, que já dobrou o existente há cinco anos. O país das feirinhas e festas de jet set da tanga.
É o país do «´tá tudo bem» e «dá cá o meu». Que tanto condecora estrelas da TV por ter um sorriso bonito, como admite que um irlandês receba com justiça uma comenda maior da Nação, ainda que vestido de cowboy. É o país do qualquer coisa com açúcar, mas de vida amargurada.
É o país dos festivais de música e dos telemóveis. O tal país que não poupa e se endivida. O país que, no entanto, não compra CDs e livros. E onde o IVA sobre a cultura mata qualquer ilusão de adolescente.
É o país dos paradoxos. Do inexplicável. O ponto de desencontro entre as mentes curtas e as visões progressistas. A terra dos milagres. A pátria dos desenrascanços. A morada das coisas belas do mundo. E a tumba dos seus sonhos.
É o país dos incongruentes. Dos que se moldam ao saltar a fronteira. Que procria inadaptados entre os seus. Faz-se gigante nos projectos impossíveis. Fracassa quando se lhe pede para somar «um e um».
Ri-se com a alma de um sul-americano. Mas, de costas voltadas para o Velho Continente, abraça-se no lamento, vidrado sem destino em África.É o país dos tristes e dos infelizes. E não era necessário um estudo do Instituto Alemão de Estudo do Trabalho para dizer isso. Portugal perdeu o sorriso. Seria preciso recuar muitos anos para encontrar um fado tão negro e carregado como este.
Portugal enterrou-se na descrença enquanto se deixava guiar pela fé. Foi-se enganando guiado pela inveja e o egoísmo. Foi fiador do maldizer da sua sorte enquanto continuava à espera de mais um outro D. Sebastião. De um Eusébio. Uma Amália. Um Variações. Ou de um totalista no euromilhões. O Portugal acomodado é tão culpado como o Portugal megalómano. E ambos merecem um valente pontapé no cu.
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terça-feira, 23 agosto, 2005

Eu e o 2x1 vamos ser os únicos sentados nas escadas dos Paços do Concelho. Assim como assim, sempre vai parecer que estamos à espera do autocarro... preferencialmente do Aerobus, que é o autocarro que vai para o Aeroporto onde poderemos apanhar uma avião para uma terra civilizada e menos deprimente que este.
Oh porra! Pára lá com os posts do apocalipse... Estou quase em lágrimas.    

Posted by Blogger S.

terça-feira, 23 agosto, 2005

Juro que estou a tentar, há cerca de meia hora, arranjar notícias positivas sobre Portugal....mas não está fácil. E agora tenho de voltar ao trabalho...    

Posted by Blogger Filipe Gil

terça-feira, 23 agosto, 2005

Tudo muito giro, a análise até está bem feita e só prova que somos muito bons a fazer análise...Aliás, não fazemos mais nada que não analizar. Fazem-se inclusivamente estudos sobre estudos que já estão feitos. E na prática, o que temos ?? Nada...temos apenas a capacidade de analizar o que está mal.    

Posted by Blogger Batista

terça-feira, 23 agosto, 2005

Vou-te contar um segredo: tão incrível como possa parecer, há quem, em Portugal, e trabalhando para a máquina do Estado, até saiba como resolver os problemas que nos assolam. Tanto sabe que estuda, analisa, pesquisa, convoca reuniões e faz apresentações powerpoint e tudo, regista opiniões, inquéritos, soma números e compara-os com outros, até encontra razões matemáticas, económicas e conjunturais pelas quais é mais vantajoso avançar com determinadas acções e medidas. Tudo isto é cuidadosamente apontado em intermináveis e mal paginados volumes de folhas A4, encadernados ou não, a que depois escolhe, invariavelmente, chamar de "PROJECTO de...".
Entretanto, demorou tanto tempo a preparar toda a documentação necessária (porque trabalha quase sózinho, tendo normalmente equipas reduzidas ou de gente que tem mesmo de sair às 5), que quando a coisa fica pronta, o governo cai ou muda e todo o trabalho é simplesmente arquivado e esquecido. A pessoa desmotiva e considera mudar-se para o sector privado ou meter os papéis para a reforma. E assim a coisa vai. Ou não vai de todo.    

Posted by Blogger S.

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