OS HOMENS SÃO MULHERES AVARIADAS
OS HOMENS SÃO MULHERES AVARIADAS
O que os cientistas descobriram agora é que o cromossoma Y é uma versãodegradada, estragada e avariada do cromossoma X.Há umas semanas, uma discreta notícia publicada na inofensiva secção decuriosidades bizarras de uma revista abriu-me os olhos para umaincrível revelação que deveria ter feito a Humanidade parar, para alémde, num mundo justo, valer aos autores da descoberta o Prémio Nobel. Arevelação afectou-me de tal maneira que já dissertei sobre ela narádio, já desenhei um cartoon sobre o inquietante assunto e quando mecontactaram da Activa, convidando-me a escrever um artigo, achei quefazia todo o sentido falar sobre isto numa revista feminina. A verdadeé que, perante a revelação de que vos falo, nem sequer aexpressão "revista feminina" por oposição a "revista masculina" fazsentido. A verdade é que nós, homens, somos no fim de contas, mulheresavariadas. Passo a explicar. Dizia a notícia, disfarçada de inofensivo chiste parajantares de empresa, que cientistas chegaram à conclusão de que oshomens estão muito mais sujeitos a apanhar todo o tipo de doenças doque as mulheres, uma vez que as mulheres possuem a famosa combinação decromossomas XX, enquanto os homens possuem a não menos famosacombinação de cromossomas XY. O que os cientistas descobriram agora éque o cromossoma Y (que, no fundo, é o que faz de nós uns homens - nãoa tropa) é, no fim de contas, uma versão degradada, estragada evariada do cromossoma X. E que o equilíbrio que as mulheres têm com adupla XX os homens não têm com o deprimente XY, daí as doenças e ofacto de morrermos mais cedo do que elas.O que está aqui a ser dito é que a norma seria o XX. A Humanidadedeveria ser toda XX. Calhou, no entanto, a algumas criaturas à facedeste planeta a infelicidade de ter a combinação não de dois X mas deum X e um Y, essa versão arruinada do X. Aliás, basta olhar para asletras: o que é o Y,senão um X a quem caiu uma das pernas e que temque se equilibrar precariamente, qual Saci Pererê, num único e frágilsuporte? Para quem ainda não percebeu - e eu ainda não fui suficientemente claroporque estou meio em negação -, o que este estudo nos está a dizer éque era suposto existirem apenas mulheres no mundo. Por um azar, umacorrente de ar, qualquer coisa que correu mal na Criação, umcromossoma X estragou-se. E aparecemos nós: esta anomalia a que seconvencionou chamar "homem".Tenho tonturas ao pensar nisto. Ao pensar que sou uma anomalia. Istopõe em causa séculos e séculos de conceitos que tínhamos como certos.A ideia que somos o sexo forte. A importância que damos ao nossopénis. Sendo que somos uma anomalia, à luz destas novas descobertas, aimportância do nosso pénis é a mesma de uma borbulha ou de umfurúnculo, uma vez que, tudo indica, era suposto termos uma vagina.Isto é uma situação profundamente dramática, pelo que quero apelar àsmulheres de Portugal que, perante a bombástica revelação, não a usemcontra nós, evitando assim expressões tais como: "Estás a ver?", "Oratoma !" ou "E agora, quem é o sexo forte?". Mais do que nunca,precisamos de carinho e compreensão. Contamos convosco!Pronto. Está escrita toda a parte do artigo que é para ser lida pelasmulheres, público-alvo desta revista. Obrigado pela vossa atenção epassem à frente: há muito bom artigo, nas próximas páginas, à vossaespera, sobre hidratação da pele e dietas. O que se segue é só para oshomens. Vão em frente, mulheres. Estejam à vontade. Obrigadíssimo. Até um diadestes. Tchau. Boa viagem.PARA OS GAJOS: Malta, isto não são más notícias. Já se aperceberam bemdo potencial desta coisa em termos de auto-vitimização? É lindo! "Nãogrites comigo, sou uma anomalia." Estamos safos por uns tempos. Acho eu.
Nuno Markl - criativo, in "ACTIVA" nº 175, Junho 2005
O que os cientistas descobriram agora é que o cromossoma Y é uma versãodegradada, estragada e avariada do cromossoma X.Há umas semanas, uma discreta notícia publicada na inofensiva secção decuriosidades bizarras de uma revista abriu-me os olhos para umaincrível revelação que deveria ter feito a Humanidade parar, para alémde, num mundo justo, valer aos autores da descoberta o Prémio Nobel. Arevelação afectou-me de tal maneira que já dissertei sobre ela narádio, já desenhei um cartoon sobre o inquietante assunto e quando mecontactaram da Activa, convidando-me a escrever um artigo, achei quefazia todo o sentido falar sobre isto numa revista feminina. A verdadeé que, perante a revelação de que vos falo, nem sequer aexpressão "revista feminina" por oposição a "revista masculina" fazsentido. A verdade é que nós, homens, somos no fim de contas, mulheresavariadas. Passo a explicar. Dizia a notícia, disfarçada de inofensivo chiste parajantares de empresa, que cientistas chegaram à conclusão de que oshomens estão muito mais sujeitos a apanhar todo o tipo de doenças doque as mulheres, uma vez que as mulheres possuem a famosa combinação decromossomas XX, enquanto os homens possuem a não menos famosacombinação de cromossomas XY. O que os cientistas descobriram agora éque o cromossoma Y (que, no fundo, é o que faz de nós uns homens - nãoa tropa) é, no fim de contas, uma versão degradada, estragada evariada do cromossoma X. E que o equilíbrio que as mulheres têm com adupla XX os homens não têm com o deprimente XY, daí as doenças e ofacto de morrermos mais cedo do que elas.O que está aqui a ser dito é que a norma seria o XX. A Humanidadedeveria ser toda XX. Calhou, no entanto, a algumas criaturas à facedeste planeta a infelicidade de ter a combinação não de dois X mas deum X e um Y, essa versão arruinada do X. Aliás, basta olhar para asletras: o que é o Y,senão um X a quem caiu uma das pernas e que temque se equilibrar precariamente, qual Saci Pererê, num único e frágilsuporte? Para quem ainda não percebeu - e eu ainda não fui suficientemente claroporque estou meio em negação -, o que este estudo nos está a dizer éque era suposto existirem apenas mulheres no mundo. Por um azar, umacorrente de ar, qualquer coisa que correu mal na Criação, umcromossoma X estragou-se. E aparecemos nós: esta anomalia a que seconvencionou chamar "homem".Tenho tonturas ao pensar nisto. Ao pensar que sou uma anomalia. Istopõe em causa séculos e séculos de conceitos que tínhamos como certos.A ideia que somos o sexo forte. A importância que damos ao nossopénis. Sendo que somos uma anomalia, à luz destas novas descobertas, aimportância do nosso pénis é a mesma de uma borbulha ou de umfurúnculo, uma vez que, tudo indica, era suposto termos uma vagina.Isto é uma situação profundamente dramática, pelo que quero apelar àsmulheres de Portugal que, perante a bombástica revelação, não a usemcontra nós, evitando assim expressões tais como: "Estás a ver?", "Oratoma !" ou "E agora, quem é o sexo forte?". Mais do que nunca,precisamos de carinho e compreensão. Contamos convosco!Pronto. Está escrita toda a parte do artigo que é para ser lida pelasmulheres, público-alvo desta revista. Obrigado pela vossa atenção epassem à frente: há muito bom artigo, nas próximas páginas, à vossaespera, sobre hidratação da pele e dietas. O que se segue é só para oshomens. Vão em frente, mulheres. Estejam à vontade. Obrigadíssimo. Até um diadestes. Tchau. Boa viagem.PARA OS GAJOS: Malta, isto não são más notícias. Já se aperceberam bemdo potencial desta coisa em termos de auto-vitimização? É lindo! "Nãogrites comigo, sou uma anomalia." Estamos safos por uns tempos. Acho eu.
Nuno Markl - criativo, in "ACTIVA" nº 175, Junho 2005
Olha ... por mais que "for the sake of all the possible jokes" me agrade a ideia da "mulher avariada", enquanto biologa achei que devia informar-te de que, ainda que nos (as "nao avariadas") tenhamos de facto 2 X, em cada celula do nosso corpo um deles esta sempre "inactivado". Esta e uma das estrategias biologicas para o fenomeno que se chama "dosage compensation" que impede os probleamas que adviriam dos productos dos genes situados no cromosoma X estarem em dose dupla nas femeas.
Posted by AnónimoPeco desculpa pelo "comment" extenso ... ossos do oficio.
Fica bem. Eu ca vou andando "com a cabeca entre as orelhas" em Leiden
pb
» Enviar um comentário