De socas nos pés

Dos Países Baixos para o mundo...

Mudar de vida, ir para o Norte

Curioso editorial do Público, assinado por José Manuel Fernandes, a 15 de Novembro de 2005

M. acaba de doutorar-se numa prestigiada universidade inglesa. Na sua mesa tem propostas de trabalho de instituições inglesas, francesas e norte-americanas.

Escolhe ir para o outro lado do Atlântico, apesar de ficar mais longe do país onde nasceu e que lhe pagou os estudos, Portugal. Mas de cá não lhe chegou nenhuma proposta, nem qualquer esperança de futuro.

H., um jornalista americano, conta que esteve em Roma e não podia ter apreciado mais a amenidade do clima, a beleza dos espaços urbanos e a qualidade dos restaurantes. Como deve ser agradável viver nesta cidade, pensou, estranhando ver nas ruas menos jovens
do que esperaria. Perguntou a um velho conhecido, romano de toda vida, e a resposta veio rápida: os jovens não têm oportunidades em Roma. Em Itália, só mais a norte. Ou então fora de Itália.

F. ensina numa universidade da Noruega, país que possui um dos mais elevados rendimentos per capita do mundo. O marido não é licenciado e tem um emprego
banal, mas também bem pago. Este ano estiveram de férias num país do Sul e, apesar do seu poder de compra, viajavam com mochilas, utilizaram os transportes
públicos mas não deixaram de visitar museus ou de percorrer a pé montes e
vales que os portugueses mal conhecem.


Estas três histórias dão-nos sinais sobre os caminhos que percorremos. Nenhuma delas
tem como protagonistas imigrantes africanos à procura de melhor fortuna na Europa, mas todas mostram que há mais esperança no futuro, e também mais confiança
no presente, conforme nos deslocamos para norte e/ou para o mundo anglo-saxónico. Porque lá há mais oportunidades, mais eficiência económica e, por vezes, também mais equidade social. Mesmo que falte sol e a delícia de viver entre ruínas de um passado grandioso.

O contraponto destas histórias são os dilemas hoje vividos em França, onde se tornou necessário prolongar por três meses o estado de emergência, com a correspondente limitação das liberdades públicas, as dores de parto do novo Governo alemão ou a dificuldade com que em Portugal se procura concretizar reformas reconhecidas como indispensáveis. No conjunto ilustram a pertinência de algumas das observações de André
Sapir no seu mais recente relatório para os ministros das Finanças da União Europeia sobre o futuro do modelo social europeu.

E qual é o ponto central desse relatório? O de que não existe um, mas sim quatro modelos sociais na Europa: o nórdico, o anglo-saxão, o continental e o mediterrânico. Sem entrar em detalhes, a que o PÚBLICO voltará, importa sublinhar que os dois primeiros se destacam pela sua eficiência económica, sendo o nórdico mais equitativo que o anglo-saxão.

Ambos têm sustentabilidade e poder de atracção. Já o modelo continental é equitativo mas não é eficiente e o mediterrânico (o nosso e de Roma…), nem é equitativo,nem eficiente. Um e outro são insustentáveis.

Daí que tenhamos de mudar de vida (e de modelo, com tudo o que isso implica) ou de mudar de país (imigrando, como sempre fizemos, só que agora as portas abrem-se sobretudo para os melhores de nós, o que é ainda mais trágico para os que cá vão ficando). Se acreditarmos que ainda existimos como nação, o melhor seria mudar de vida, razão por que vale a pena olhar para o exemplo daqueles turistas noruegueses. E notar algumas diferenças: no casal, é a mulher a mais qualificada, mas não há preconceitos;
viajam sem luxos, apesar do seu poder de compra; e preferem prazeres simples, sem ostentação. Enfim, outra filosofia de vida – melhor, uma outra cultura, um outro capital social, bem mais valioso do que o petróleo que exploram.
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sexta-feira, 18 novembro, 2005

Obrigado pela disponibilidade quanto ao Saramago. Mas a minha mae antecipou-se... Já está um exemplar no Porto ä minha espera. Duas semanas e é meu!!!    

Posted by Blogger C@B

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