De socas nos pés

Dos Países Baixos para o mundo...

Os encontros aconteciam quase de ano a ano. E, apesar de serem poucos, eram lições de vida, de arte, de sensibilidade, de música e até mesmo de gastronomia. Aprendi tanta coisa naqueles poucos minutos, naquelas poucas horas que marcavam os serões que quase sempre aconteciam perto do Natal. Todos os anos sabia que a época natalícia era sinal do encontro ali pela Avenida Estados Unidos da América.

Sempre tive a preocupação que me visses como uma pessoa de mente aberta, sempre pronto a escutar os outros e aceitar tudo o que era novo e diferente. Tive sempre medo que me confundisses com esses mentecaptos que a sociedade portuguesa produz a rodos, aqueles das camisas de marcas e dos sapatinhos de vela, onde a mais pequena sensibilidade e respeito pela arte se confunde com o tradicionalismo.

Os anos foram passando e esse medo desapareceu. Lembro-me da última conversa e da calma com que me aconselhastes a viver no estrangeiro. Do conselho a relaxar, como só um brasileiro pode explicar a um português. Várias vezes, nos vários dias que as coisas estavam difíceis aqui pela Holanda, lembrava-me das tuas palavras. Hoje, tenho a certeza que nunca as esquecerei, em qualquer lugar para onde vá, em qualquer país que esteja.

Naqueles minutos que já falei conheci alguma da boa música brasileira com a tua ajuda, e ajudaste-me a ver a pintura de uma forma que até então desprezava.
A propósito, nunca me hei-de esquecer de como me ensinaste a gostar de Elis, de Adriana, como me falaste de Maria Rita ou como me explicaste a loucura e a transa de Caetano nos anos que passou em Londres. Nunca me esquecerei que me explicaste como temos o Caetano de hoje.

Foram poucos os anos. Tive sempre a sensação de que mais tarde teriamos mais contacto, que iria ler os teus livros e, se possível, ajudar a vender os teus quadros, a organizar as exposições…

Este ano estava outra vez a preparar-me para o encontro, para o ritual que me ajudava a crescer mais um pouco todos os anos. Agora que já não estás aqui, não sei como vou fazer. Vou, talvez, tentar ouvir nas letras de Caetano, nos gritos de Elis ou no murmurar de Maria Rita a tua paz inquieta, o teu jeito brasileiro, o teu encorajamento. Vou tentar…

para o Zé
« Home | Next »
| Next »
| Next »
| Next »
| Next »
| Next »
| Next »
| Next »
| Next »
| Next »

segunda-feira, 12 dezembro, 2005

Não há palavras que possam minimizar a perda de um Amigo...    

Posted by Blogger C@B

» Enviar um comentário

Powered by Blogger