De socas nos pés

Dos Países Baixos para o mundo...

A Periférica acabou!

E uma das melhores revistas culturais portuguesa acaba. A nossa "The New Yorker" desaparece. É o definhar do Portugal Cultural?!

Precisam-se mais projectos como este!!!



O ambiente quase impoluto em que agora é feita a revista cultural que surpreendeu por nascer no lugar mais recôndito do país e ser de distribuição nacional – “Em Vilarelho como em Nova Iorque” foi o slogan que viveu amarrado à publicação que curiosamente é apoiada por uma associação cultural local – parece dar razão aos comentários que por estes dias se ouvem junto de alguns apreciadores da publicação para explicar o fim do projecto: os responsáveis da Periférica “aburguesaram-se” e “acomodaram-se”.

O grupo de amigos que conduziu o projecto durante os seus quatro anos de existência refuta logo a acusação. “O fim da Periférica deve-se antes à nossa falta de disponibilidade pessoal”, explicam. “Fazer uma boa Periférica exige talento, tempo, dedicação, atenção, treino – uma redacção em forma e altamente disponível. De todos os requisitos apenas nos sobra o talento”, explicam no editorial do último número, com o humor que os caracteriza.

A revista feita em papel reciclado e com uma apresentação gráfica imaginativa, conhecida por ser contracorrente, mordaz, cheia de ironia, humor e provocação, despede-se. E “não adianta carpir, porque é decisão madura, colectiva, irreversível”, gracejam os seus editores.

Último número “não será revivalista” Com humor, um deles, Carlos Chaves, aparece na capa do
último número a “arrumar” a revista que sai da própria página. “E pronto”. Este número 14, que começará a chegar às livrarias habituais em todo o país durante esta semana, não será revivalista, nem especial. “É só o último número”. Mas, por ser o último, a revista que chegou
a ser comparada à revista The New Yorker, tem duas capas, sendo que a contracapa é uma brincadeira ainda no segredo dos deuses. E, por ser o último número, sublinham os editores, “permitimo-nos pôr de lado o jornalismo de entrevista e reportagem e deixar que a edição se espraiasse um pouco mais pelas imagens, pela pintura, pela fotografia, pela banda desenhada,
pelo design”. Nestas áreas, a revista despede-se com nomes como Connie Imbonden (fotógrafa inglesa que está representada nas colecções permanentes dos Museus de Arte Moderna de Nova Iorque (MoMA) e San Francisco e noutros locais, Célia Doran (artista plástica portuguesa a residir em Londres) e Aneta Grzeszykowka e Jan Smaga (fotógrafos polacos), entre outros.

Naturalmente, a prosa literária não falta, com o habitual J. Rentes de Carvalho, escritor português radicado na Holanda, e Gonçalo M. Tavares, que em 2005 ganhou o Prémio José Saramago, com o livro Jerusalém. A literatura foi sempre um dos vectores mais importantes da revista. Os seus editores chegam, no entanto, ao último número com uma “mágoa”: “A de não termos encontrado a nova narrativa portuguesa”.Mas “não somos a salvação de Portugal. Hélas!”
in Público, 31-01-2006
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