Pinto da Costa, não!
Não vamos querer o Gil & Gil português ou o Bernard Tapie do Norte a candidatar-se pelo PS, pois não??? Começo a ficar com medo que Jorge Coelho, e companhia, começem a ficar com tal sede de vitória que não neguem em concreto o apoio de um dos homens mais corruptos de Portugal: Pinto da Costa.
Assim, este editorial de Luís Osório faz todo o sentido, ler e reler.
Pinto da Costa e o PS
LUÍS OSÓRIO
O PS tem uma oportunidade única para conquistar a primeira maioria absoluta da sua história. Tudo parece ser-lhe favorável: descontentamento popular expresso em todos os indicativos; últimos meses de governação caóticos e que provaram a inaptidão de Santana Lopes para a função de primeiro-ministro; energia renovadora de José Sócrates e os apoios congregados junto de sectores vitais da economia e da sociedade; cooperação das elites socialistas com o seu secretário-geral; estratégia de Paulo Portas que isolou e expôs, por completo, o ainda presidente do PSD.
José Sócrates conseguiu ocupar, num misto de habilidade e descontrolo do adversário, o centro político. Que não acredito ser o "sítio" onde se ganham as eleições, mas que é, seguramente, uma conquista vital para quem aspira à maioria absoluta. E o que é, simplificando, o centro político? É, tão-somente, o "lugar" onde se encontra a maior parte da população portuguesa. Gente desinteressada da discussão ideológica e dos partidos; que vota de acordo com uma ideia de estabilidade; que escolhe a sua opção eleitoral tendo em conta mais as suas próprias vidas e interesses do que outra coisa qualquer.
O centro é um território pantanoso. Um território onde não existem ideias, ideais, convicções, esquerda ou direita. Para se conseguir entrar aqui é necessário ser politicamente correcto, ter uma imagem credível e equilibrada, não estar muito à esquerda nem muito à direita, não fazer alianças com partidos que não tenham uma linguagem e uma práxis previsível e sistémica.
Este centro político difuso vota, regra geral, no PSD, e, em algumas circunstâncias, dependendo dos líderes, no PS. António Guterres conseguiu, quase por completo, ganhar esse centro na sua segunda vitória. José Sócrates, se dramatizar suficientemente a questão da maioria absoluta e da incompetência formal de Santana Lopes, pode cativar essa maioria silenciosa de que se falava nos tempos do PREC.
No entanto, o Partido Socialista tem, e esse efeito é sempre imprevisível, oferecido aos seus adversários políticos, hipóteses de redenção inesperadas. Parece estar a acontecer isso com a ausência de respostas de José Sócrates à declaração de Pinto da Costa sobre o combate autárquico com Rui Rio. A resposta oficial é extraordinária: «a nossa prioridade são as eleições legislativas, não as autárquicas». Uma resposta que tenta não hostilizar o que julgam ser os milhares de admiradores do presidente do FC Porto, mas, ao mesmo tempo, desvalorizando ao máximo a questão.
É um erro tremendo que, a não ser resolvido a tempo, será aproveitado fatalmente por Santana Lopes. As palavras de Pinto da Costa – que soam a uma espécie de fuga em frente por causa do processo Apito Dourado – são um presente envenenado. Se o Partido Socialista não disser, e o mais rapidamente possível, que este dirigente desportivo jamais será candidato a qualquer eleição pelo PS, provocará no eleitorado a estranha sensação de que o será.
E o que tem isso de mal? Muitas coisas laterais e duas extremamente importantes. Em primeiro lugar, Pinto da Costa é arguido por fortes suspeitas de corrupção e está impedido de contactar com membros da sua própria direcção. Os seus direitos de cidadão estão diminuídos, e isso nada tem que ver com a obrigatoridade da presunção de inocência que todo o cidadão deve merecer. Como pode alguém nestas condições ser admitido como hipótese, mesmo que tácita, a uma eleições? Como pode o PS aceitar ser "testa-de--ferro" das suspeitas intenções de Pinto da Costa, apenas para salvaguardar aquilo que julga ser a sua base social de apoio? Em segundo lugar, o presidente do FC Porto é, muito provavelmente, o mais detestado português. Talvez não seja necessário dizer porquê. Numa frase, Pinto da Costa é tudo o que representa a face mais odiável do desporto em Portugal.
E o que José Sócrates tem de fazer? Simplesmente dizer que agradece o apoio de todos os portugueses que o queiram fazer, e aí se inclui Pinto da Costa, mas que pode garantir que o dirigente do FC Porto jamais será um candidato apoiado pelo PS.
A fronteira da maioria absoluta é demasiadamente ténue, e ele deveria sabê-lo.
in A CAPITAL, 20 de Dezembro de 2004
Assim, este editorial de Luís Osório faz todo o sentido, ler e reler.
Pinto da Costa e o PS
LUÍS OSÓRIO
O PS tem uma oportunidade única para conquistar a primeira maioria absoluta da sua história. Tudo parece ser-lhe favorável: descontentamento popular expresso em todos os indicativos; últimos meses de governação caóticos e que provaram a inaptidão de Santana Lopes para a função de primeiro-ministro; energia renovadora de José Sócrates e os apoios congregados junto de sectores vitais da economia e da sociedade; cooperação das elites socialistas com o seu secretário-geral; estratégia de Paulo Portas que isolou e expôs, por completo, o ainda presidente do PSD.
José Sócrates conseguiu ocupar, num misto de habilidade e descontrolo do adversário, o centro político. Que não acredito ser o "sítio" onde se ganham as eleições, mas que é, seguramente, uma conquista vital para quem aspira à maioria absoluta. E o que é, simplificando, o centro político? É, tão-somente, o "lugar" onde se encontra a maior parte da população portuguesa. Gente desinteressada da discussão ideológica e dos partidos; que vota de acordo com uma ideia de estabilidade; que escolhe a sua opção eleitoral tendo em conta mais as suas próprias vidas e interesses do que outra coisa qualquer.
O centro é um território pantanoso. Um território onde não existem ideias, ideais, convicções, esquerda ou direita. Para se conseguir entrar aqui é necessário ser politicamente correcto, ter uma imagem credível e equilibrada, não estar muito à esquerda nem muito à direita, não fazer alianças com partidos que não tenham uma linguagem e uma práxis previsível e sistémica.
Este centro político difuso vota, regra geral, no PSD, e, em algumas circunstâncias, dependendo dos líderes, no PS. António Guterres conseguiu, quase por completo, ganhar esse centro na sua segunda vitória. José Sócrates, se dramatizar suficientemente a questão da maioria absoluta e da incompetência formal de Santana Lopes, pode cativar essa maioria silenciosa de que se falava nos tempos do PREC.
No entanto, o Partido Socialista tem, e esse efeito é sempre imprevisível, oferecido aos seus adversários políticos, hipóteses de redenção inesperadas. Parece estar a acontecer isso com a ausência de respostas de José Sócrates à declaração de Pinto da Costa sobre o combate autárquico com Rui Rio. A resposta oficial é extraordinária: «a nossa prioridade são as eleições legislativas, não as autárquicas». Uma resposta que tenta não hostilizar o que julgam ser os milhares de admiradores do presidente do FC Porto, mas, ao mesmo tempo, desvalorizando ao máximo a questão.
É um erro tremendo que, a não ser resolvido a tempo, será aproveitado fatalmente por Santana Lopes. As palavras de Pinto da Costa – que soam a uma espécie de fuga em frente por causa do processo Apito Dourado – são um presente envenenado. Se o Partido Socialista não disser, e o mais rapidamente possível, que este dirigente desportivo jamais será candidato a qualquer eleição pelo PS, provocará no eleitorado a estranha sensação de que o será.
E o que tem isso de mal? Muitas coisas laterais e duas extremamente importantes. Em primeiro lugar, Pinto da Costa é arguido por fortes suspeitas de corrupção e está impedido de contactar com membros da sua própria direcção. Os seus direitos de cidadão estão diminuídos, e isso nada tem que ver com a obrigatoridade da presunção de inocência que todo o cidadão deve merecer. Como pode alguém nestas condições ser admitido como hipótese, mesmo que tácita, a uma eleições? Como pode o PS aceitar ser "testa-de--ferro" das suspeitas intenções de Pinto da Costa, apenas para salvaguardar aquilo que julga ser a sua base social de apoio? Em segundo lugar, o presidente do FC Porto é, muito provavelmente, o mais detestado português. Talvez não seja necessário dizer porquê. Numa frase, Pinto da Costa é tudo o que representa a face mais odiável do desporto em Portugal.
E o que José Sócrates tem de fazer? Simplesmente dizer que agradece o apoio de todos os portugueses que o queiram fazer, e aí se inclui Pinto da Costa, mas que pode garantir que o dirigente do FC Porto jamais será um candidato apoiado pelo PS.
A fronteira da maioria absoluta é demasiadamente ténue, e ele deveria sabê-lo.
in A CAPITAL, 20 de Dezembro de 2004
É mais que óbvio que Pinto da Costa nunca será o candidato do PS.
Posted by Pedro SáSe calhar ainda nada foi dito precisamente porque quanto mais ele julgar que pode vir a ser mais estragos fará ao PSD...
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