De socas nos pés

Dos Países Baixos para o mundo...

Boa Páscoa

Respeito, mas não compreendo (ver notícia em baixo).

E atenção, não me intitulando católico ou sequer cristão, não sou completamente ateu. Acho que existe qualquer coisa, que é bom e mau ao mesmo tempo. Que é matéria e imatéria. E até acho que Jesus foi o primeiro grande socialista (ok, com aquelas chanatas talvez mais Berloquista) da história da Humanidade. As teorias dele são fantásticas. Igualdade para todos, yes! Hoje em dia seria um perigoso esquerdista. Enfim.

Boa Páscoa.

"Passar fome. Ou pelo menos evitar os excessos: carne, salmão, linguado, marisco. Não usar jóias. Evitar o cabeleireiro. Usar roupa mais discreta: saias compridas, calças menos justas, blusinhas simples. Deitar cedo e cedo erguer. Ter paciência para os outros. Dar sem querer receber nada em troca. Ser melhor todos os dias. Estes são apenas alguns dos "sacrifícios" que milhões de católicos em todo o mundo se propõem fazer durante a Quaresma (período de quarenta dias que vai desde a Quarta-Feira de Cinzas até Domingo de Páscoa), recordando assim o sacrifício que Jesus Cristo fez pela humanidade, morrendo na cruz.

Mas há quem vá mais longe. Luís Vieira tem 34 anos, é empresário e pertenceu ao Opus Dei, uma instituição católica fundada por Josemaría Escrivá de Balaguer, e que está geralmente conotada com uma interpretação mais conservadora e rígida do catolicismo. "Na Obra, há quem pratique sacrifícios físicos, nomeadamente quem use cilício (cinto de crina ou lã áspera que se usa como forma de mortificação do corpo e, consequentemente, do espírito). São muito raras as pessoas que o fazem, mas eu decidi experimentar, por curiosidade."

O uso de cilício como forma de mortificação ficou recentemente associado a um lado mais perverso e obscuro da religião. O livro Código Da Vinci, de Dan Brown, apresentava um homem da Igreja, autor de diversos crimes, que usava um cilício que lhe cortava a carne, fazendo-o sangrar, como forma de expiar os seus pecados. Pedro Gil, director do Gabinete de Informação do Opus Dei em Portugal e assessor do vigário regional para Portugal, desmistifica essa ideia: "A irmã Lúcia, a madre Teresa de Calcutá, Paulo VI usavam cilício e disciplinas, formas simbólicas de recordar a Paixão de Cristo." E acrescenta: "Há cristãos, e também fiéis do Opus Dei que beneficiam desse costume, que nem é principal nem encorajado". De resto, conclui, "essa prática tradicional da Igreja nada tem a ver com o rito sangrento de automutilação masoquista que é praticado pelo criminoso protagonista desse best-seller".

Luís Vieira já não pertence ao Opus Dei há cinco anos. Mas quando pertenceu quis ir mais longe e unir- -se, de forma mais física, à dor de Cristo. "É um sacrifício, mas não tem nada a ver com o que é descrito no Código Da Vinci. Quem usa ou usou ri-se ao ler aquilo. O cilício não faz mais do que uma ligeira comichão. Pode apertar-se mais ou menos, mas mesmo muito apertado não faz mais que provocar algum desconforto."

Hoje, Luís Vieira já não se sacrifica desse modo, mas continua, no período da Quaresma, a impor a si mesmo algumas regras: "Não ponho açúcar no café, levanto-me assim que o despertador toca, entre outros pequenos sacrifícios, que são bem mais difíceis do que o cilício. A perspectiva é sempre a mesma: melhorar por dentro, tornar a vida dos outros melhor, sempre com o objectivo de oferecer estes sacrifícios a Deus."

Rosário Luís pensa do mesmo modo. Tem 40 anos, vai à missa todos os fins-de-semana e preocupa-se particularmente com o tempo da Quaresma: "Costumo andar sempre muito arranjada, muito maquilhada, tenho sempre as mãos arranjadas. E, confesso, adoro usar ouro. E habitualmente uso." Porém, é uma mulher diferente a que se apresenta na Pastelaria Mexicana, na Praça de Londres, em Lisboa. Calças de ganga, rabo-de-cavalo, uma única pulseira de tecido, já gasta, do Senhor do Bonfim, Brasil. "Durante a Quaresma, tento evitar a vaidade e qualquer tipo de excesso, seja estético, seja alimentar ou até mesmo a um nível mais íntimo." Rosário Luís embaraça-se, sente-se pouco à-vontade para falar da sua vida sexual com estranhos. "Eu e o meu marido procuramos mesmo não ter relações sexuais neste período."

Durante a Quaresma, Rosário Luís procura ser uma pessoa mais simples, mais recatada, evitando tudo o que lhe dá prazer. "Para algumas pessoas, isto é uma tolice. Para mim faz todo o sentido. Cristo sacrificou- -se e morreu por nós. Acho que os nossos pequenos gestos são uma forma de lembrar o amor de Cristo por nós."
in Diário de Notícias, 14-04-06
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sexta-feira, 14 abril, 2006

sacrifício com sacrifício se paga. São formas simbólicas de mostrar ao mundo que posição ideológica, espiritual,etc se assume. A morte de cristo é um protesto. E como qualquer protesto pacifico é simbólico. Neste caso sob a forma de um sacrifício. Para quem sente necessidade de "agradecer" este gesto o sacrifício parece-me bastante óbvio. No período da quaresma ainda mais. Só não percebo como podes respeitar algo que não compreendes.\
Bjs    

Posted by Blogger joana lee

sábado, 15 abril, 2006

Não há aqui expiação, mortificação ou sacrifício que umas sessões de psi não explicassem... por mais alibis culturais ou religiosos que se inventem! Quem se martiriza fá-lo porque tem desequilíbrios por resolver. Ou porque gosta! Não acredito que se possam respeitar religiões que veneram e justificam o sofrimento. Mau é Bom?
Estupendo    

Posted by Anonymous Anónimo

segunda-feira, 17 abril, 2006

Filipe, faz como eu. A partir do momento que não sou cristão estou-me borrifando, porque isso é apenas um problema dos crentes, que deve passar ao lado dos restantes.    

Posted by Blogger Pedro Sá

terça-feira, 18 abril, 2006

exactamente! é um problema dos crentes. quem crê é livre como um não crente em decidir o que faz da sua vida. a Quaresma representa isso mesmo, e escolha da melhor (para uns) maneira de "sofrer" como sofreu Jesus por todos nós...

quanto a respeitar sem acreditar... acho bem mais sensato que não acreditar por não acreditar, criticar sem querer perceber. nunca sofri fisicamente na Quaresma mas alguns hàbitos normais que me dão prazer tento fazer em menor quantidade... não percebo como isto pode incomodar tanto!    

Posted by Blogger andrea

terça-feira, 18 abril, 2006

Só acho que aquilo que o JC andou a fazer à 2000 e tal anos não deve ser só recordado na Páscoa, mas sim todos os dias. E quando ao sofrimento, o físico é, para mim, uma estupidez (perdoem-me os crentes), o sofrimento mental esse sim é que custa.

Sei lá, deixarmos a família no dia de Páscoa para irmos ajudar os que necessitam. Acho que o JC iria apreciar muito mais do que uma chicotadas no lombar (em sentido figurado, claro).

But, como diz o outro RESPECT!    

Posted by Blogger Filipe Gil

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