Viver na Holanda: o bom e o mau
quarta-feira, dezembro 22, 2004Depois de quatro meses a viver numa pequena cidade holandesa, Delft, na província da Zuid Holland, entre Haia e Roterdão, e a 46 quilómetros de Amesterdão, consigo fazer uma resumo das coisas boas e menos boas de viver aqui.
Positivo
- A sociedade bastante justa. Não, a Holanda não é só drogas, bicicletas, moínhos e socas de mandeira, é muito mais do que isso! E actualmente a grande preocupação é saber onde é que erraram na integração dos milhares de muçulmanos que têm no país. Se é que erraram.
Existe um anúncio na televisão que apela ao respeito para quem trabalha como empregado de limpeza. Dizendo que as coisas são mais fáceis no dia-a-dia porque existem pessoas que limpam, que servem, etc.
Isto, certamente, seria considerado um anúncio do proletariado em Portugal, algo comuna. E, como sabem, estamos num dos países mais capitalistas do mundo!
- O custo de vida aqui é mais barato. E se comparármos com aquilo que os portugueses ganham, então é mesmo muito mais barato. Num supermercado o saco fica cheio com 10 euros. Em Portugal, fica cheio...de ar.
- Amesterdão. A capital holandesa (sim, é Amesterdão e não Haia) é uma metrópole onde tudo acontece. E, no entanto, tem-se a sensação que tudo é pequeno e familiar, cousy, em inglês, ou gezelig em holandês. Cafés e mais cafés onde apetece estar, ler um livro, namorar, pensar, tertuliar. Amesterdão continua a ser a minha cidade preferida da Europa, a par da minha Lisboa. Faltam a Lisboa os grandes museus que aqui há...
- Roterdão. Apesar de não gostar assim tanto de Roterdão, tenho que confessar que a cidade surpreende pela positiva. É um cidade estranha para um português, se calhar para um latino. É a típica "segunda" cidade onde as pessoas são menos abertas aos estrangeiros. Mas Roterdão tem uma vida cultural que não dá treguas. Era bom que o nosso Porto tivesse, ao menos, metade daquilo que por aqui se passa.
- A politica de drogas funciona e devia ser seguida pelos restantes países da UE. Quem sabe se a CM de Lisboa for ganha por um candidato de esquerda não venhamos a ter um Bairro Alto com uma politica de drogas similar à holandesa. Não custa nada tentar.
- A quantidade de empregos interessantes na área do jornalismo e relações públicas. Mas só para quem domina a língua holandesa.
- A sensação que todos trabalham para um objectivo que é manter a Holanda como um dos países mais justos socialmente é sentida no dia-a-dia.
- E, para acabar, a beleza feminina. As holandesas são, no geral, muito bonitas. E as das grandes cidades, mais sofisticadas, parecem todas saídas de um concurso de modelos.
Negativo
- O mercado de trabalho. Com inumeras agências de trabalho, temporário ou não, os holandeses não conseguem funcionar muito bem com esse sistema. Que os próprios inventaram. Promessas de emprego que ficam por aí mesmo, promessas.
- A ignorância de algumas pessoas. Pelo menos na zona de Roterdão. Já por duas vezes me perguntaram se Portugal é membro da União Europeia. Compreende-se que tal pergunta seja feita aos novos países membros, mas não a Portugal. Estes gajos não se lembram que não trocam a moeda quando vêm para o Algarve. Ou será que eles pensam que o Algarve não é Portugal?
- Luz & luz. Faz-me falta a luz de Lisboa e o Estádio da Luz do meu Benfica!
- Consulado Português de Roterdão e o fraco apoio que dão aos emigrantes. É tudo tratado de frete para cima.
- A comida. A boa é a Indonésia. A comida holandesa é muito fraca.
- As auto-estradas. Este país com cerca de 60 por cento da extensão de Portugal parece, por vezes, entupido. Quer porque as auto-estradas estão cheias, quer porque os combóios atrasam sempre. Se pensarmos que dos quase 17 milhões de pessoas que vivem na Holanda, cerca de 70 por cento vive num espaço geográfico chamado de Randstad (Amesterdão, Utreque, Haia e Roterdão) que não tem mais do que 60 quilómetros de distância maior entre estas cidade, dá que pensar.
- As saudades da família, dos amigos e dos sitios de Lisboa!